A Estância Cristina está localizada na costa noroeste do Lago Argentino, em um canto intocado dentro do Parque Nacional Los Glaciares. O lugar é realmente isolado, só é possível chegar lá de barco. Sabia que há milhões de anos atrás o vale onde se encontra a Estância Cristina passava o Glaciar Upsala? Aliás, a Estância Cristina é o único lugar em terra de onde podemos ver o glacial, com uma vista privilegiada.
Nesse artigo conto minhas dicas do passeio à Estância Cristina, sobre a experiência de caminhar por essas terras distantes e conhecer sua história de perto. Um lugar longínquo que luta pra preservar sua essência e o ar rústico da Patagônia Argentina, mantendo viva a história da família que viveu ali no início do século passado.

Passeio de barco pelo Lago Argentino
Logo cedo o carro da Estância Cristina passou no nosso hotel e rumamos com destino à Punta Bandera, um pequeno píer que fica distante à uns 50 minutos da cidade de El Calafate. A estrada é linda e vai margeando o Lago Argentino. Chegamos à Punta Bandera ainda cedo. O sol ainda estava tímido e fazia frio com o vento gelado da primavera. Duas embarcações modernas da Estância nos aguardam. Entrei logo na fila para tentar pegar um lugar na parte superior do barco e na janela.
Se bem que, mesmo com frio, eu fiquei mais na parte externa do barco do que no seu interior protegido. A oportunidade de apreciar o cenário e fotografar era única! Afinal estávamos pertinho do Glacial Upsala, o terceiro maior glacial da América do Sul, que cobre uma extensão de 765 km². Pra você ter ideia o Upsala é três vezes maior que o famoso Perito Moreno. Ele já foi a maior geleira, mas infelizmente vem diminuindo rapidamente de tamanho devido as mudanças climáticas. Por questões de segurança o barco nem se aproxima muito (por conta dos desprendimentos de gelo) e os passeios de kayak foram suspensos por tempo indeterminado. ☹
Tenho que dizer que as três horas de navegação voam! A medida que avançamos no lago a paisagem vai ficando cada vez mais impressionante. Como são lindas as montanhas andinas cobertas de neve, quebrando a linha do horizonte. Tivemos oportunidade de cruzar vários icebergs que ficam flutuando pelo lago. O tom do gelo azul é tão lindo, que se torna difícil de acreditar.
Depois de milhões de fotos, o capitão do barco recuou e entrou no “braço Cristina”, onde desembarcamos num pequeno píer.

Explorando a Estância Cristina
Chegando na propriedade fomos separados em grupos, de acordo com a opção de passeio escolhido. São 3 opções, todos com visita guiada em caminhonetes 4×4. Sua opção é feita no momento da compra e pode escolher entre o Classic, o Discovery e o Trekking no Cânion dos Fósseis. A navegação pelo Lago Argentino está inclusa nas três opções.
Classic
Além da navegação pelo Lago Argentino, nesta experiência você conhecerá a história da Estância com a visita ao museu e depois fará uma trilha de aprox. 2h30 até a Cascada de los Perros. Não tenho muita informação além disso porque não foi essa a minha opção.
Discovery
Essa opção coincide parcialmente com a milha escolha (Trekking). Chegamos na estância e iniciamos um off road num 4×4 de 9,5Km, atravessando o Rio Caterina e um bosque na encosta da cordilheira andina.
Ao chegar ao refúgio de Gelos Continentais caminhamos por aprox. 30 minutos por terrenos de erosão glacial até chegar no mirante. A vista era matadora…. De cara para o lado oriental do Glaciar Upsala, de frente para o Lago Guilhermo e para a Cordilheira dos Andes. Congelei o momento literalmente!


O tour ainda inclui a visita guiada ao museu e um almoço com cordeiro patagônico, que eu não provei porque escolhi a terceira opção…
Trekking Cânion dos Fósseis
A diferença entre o tour Discovery e o Trekking começa no Lago Guilhermo. O pessoal que escolheu o Discovery volta pro almoço de carro 4×4 e nós voltamos à pé para a Estancia numa caminhada de 14km, Sim essa foi a minha escolha! Juntei-me a um grupo de 8 aventureiros para cruzar a pé esse espetacular desfiladeiro de fósseis numa caminhada de mais ou menos 4 horas. Imagina que os fósseis marinhos estão enterrados lá há mais 200 milhões de anos, antes da era glacial, antes da formação da Cordilheira dos Andes. Imagina isso?! A trilha é linda demais, pena que o tempo estava fechado.
Uma chuvinha fina caiu, mas não atrapalhou porque nessa região o índice pluviométrico é baixo. Pra confirmar quão inóspita é a região, nem a chuva chega lá.
Descemos um vale de rochas coloridas, acompanhando o rio, passando por campos de pastoreio, lagoas e bosques, até chegar de volta à estância. À certa altura paramos para o lanche (opcional) preparado pela Estância enquanto ouvíamos o guia dar uma verdadeira aula de paleontologia, arqueologia, geologia, sustentabilidade e história. Tudo junto e misturado, ali ao vivo! Que experiência!
Bom avisar que esse trekking, devido à exigência física e à dificuldade do terreno, só é adequado para pessoas com boas condições físicas. O guia leva um rádio e materiais de primeiros socorros, mas uma vez iniciado o trekking, a única maneira de retornar à Estância é caminhando… Levei dois bastões de apoio para o joelho, mas não precisei tanto deles. Botas de trekking para proteger os tornozelos são imprescindíveis.
História da Estância Cristina
Sabia que o termo “Estância” nasceu pra denominar os refúgios construídos por desbravadores estrangeiros que chegaram na Patagônia no início dos anos 1900 em busca de ouro? O governo argentino àquela época estava prometendo aos pioneiros grandes terras por custos mínimos. Só que o ouro nunca foi encontrado! Lá só acharam a pirita, um mineral conhecido como “oro del tonto”, sem valor no mercado. Foi por essa oportunidade que em 1914 o marinheiro inglês Joseph Percival Masters se instalou onde hoje está a Estância Cristina, com sua esposa Jessie Elisabeth Waring, também da Inglaterra. Só que eles de fato nunca se tornaram donos da terra, ganharam apenas a permissão hereditária para ficar. Ali criaram gado, cavalos e chegaram a ter 27 mil ovelhas, a principal fonte de renda.
A estância leva o nome de sua filha Cristina, que não morreu de pneumonia, ainda bastante jovem. Tendo oportunidade não deixe de visitar o museu da propriedade (incluso nos passeios Classic e Discovery) onde estão fotos, objetos e móveis originais da época da família Masters. Fico imaginando como era a vida naquela época nesse lugar tão distante e inóspito. Pensa no inverno… Meu Deus!
Nos anos 80 Janet Herminston, viúva do segundo filho de Joseph, começou a hospedar expedicionários, científicos e escaladores. Foi a maneira que ela encontrou de pagar as contas da propriedade. Aos poucos especialistas do mundo inteiro vieram estudar os tesouros arqueológicos e paleontológicos encontrados no território da Estância Cristina. Hoje o local é gerenciado por empresários que preservam a essência e a história da família Masters.
O Hotel Pousada Estância Cristina
Gostou do passeio à Estância Cristina? Pois saiba que é possível hospedar-se lá e curtir com tranquilidade esse local de natureza única. Não foi à toa que a National Geographic Traveler listou a Estância Cristina no roll dos hotéis mais autênticos e únicos na América do Sul.
Fiquei tão encantada que em breve quero voltar e ter a oportunidade de me hospedar e passar mais dias lá para explorar as outras experiências que são exclusivas aos hospedes. Tem outros passeios a pé, de 4×4, a cavalo ou de mountain bike. Quero!
A Hotel pousada Estância Cristina tem 20 quartos distribuídos em 5 lodges. As diárias incluem os translados, pensão completa com bebidas não alcoólicas, atividades e a taxa do Parque Nacional Los Glaciares. Ela fica aberta normalmente de 15 de outubro a 15 de abril, e fecha pra temporada de outono / inverno.
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Um bjo, ótima viagem e voltem sempre!
Oi! Você contratou o passeio por alguma agencia?
Oie, sim, lá no blog (menu organize sua viagem / garanta seus ingressos ) você vai ser direcionado para o link da Get your guide.
https://www.getyourguide.com.br/el-calafate-l544/-t31604/
Me avisa se deu certo (ou não!)…